19 de mai. de 2007

Essência diversa

Por André Lemos

Recombinar, copiar, apropriar, mesclar elementos os mais diversos não é nenhuma novidade no campo da cultura. Toda cultura é, antes de tudo, híbrida; formação de hábitos, costumes e processos sócio-técnico-semióticos que se dão sempre a partir de acolhimento de diferenças e no trato com outras culturas. A re-combinação de diversos
elementos, sejam eles produtivos, religiosos ou artísticos é sempre um traço constitutivo de toda formação cultural. Por outro lado, toda tentativa de fechamento sobre si acarreta empobrecimento, homogeneidade e morte. A cultura necessita, para se manter vibrante, forte e dinâmica, aceitar e ser, de alguma forma, permeável a outras formas culturais. Esse processo está em marcha desde as culturas mais “primitivas”, até a cultura contemporânea, a cibercultura. Assim, não é a recombinação em si a grande novidade, mas a forma, a velocidade e o alcance global desse movimento. As novas tecnologias de comunicação e informação serão vetores de agregação social, de vínculo comunicacional e de recombinações de informações as mais diversas sobre formatos variados, podendo ser textos, imagens fixa e animada e sons. A cultura “pós-massiva” das redes, em expansão com sites, blogs, wikis, softwares livres, redes de relacionamento, troca de fotos, vídeos e música em diversos sistemas mostra muito bem esse movimento de recombinação cultural em um território eletrônico em crescimento planetário. A cibercultura é importante porque ela é, em sua própria essência, diversa, multimodal, multivocal. Ela permite a liberação da emissão, a conexão de pessoas reconfigurando a indústria cultural massiva.

18 de mai. de 2007

Cultura "remix"

Por André Lemos

A cibercultura instaura uma estrutura midiática ímpar (estrutura com funções “pós-massivas”) na história da humanidade onde, pela primeira vez, qualquer indivíduo pode produzir e publicar informação em tempo real, sob diversos formatos e modulações, adicionar e colaborar em rede com outros, reconfigurando a indústria cultural (“massiva”). Os exemplos são numerosos, planetários e em crescimento geométrico: blogs, podcasts, sistemas peer to peer, software livres, wikis, softwares sociais, a arte eletrônica... Trata-se de uma crescente troca de informação e processos de compartilhamento de diversos elementos da cultura a partir das possibilidades abertas pelas tecnologias eletrônico-digitais e pelas redes telemáticas contemporâneas. Por isso ela é uma cultura "remix", do compartilhamento, das possibilidade de cooperação e de combinação de informações (bits) sobre diversos formatos. O atual desenvolvimento do que se está chamando de Web 2.0 nada mais é do que o surgimento de novas ferramentas digitais que permitem a participação, o compartilhamento, a troca e, assim, o crescimento da cultura, da ciência, das relações sociais. Sempre que podemos emitir livremente e em contato com outros, essa ação é forte em conseqüências. É o que estamos vivendo hoje com a cibercultura. Uma remixagem radical da cultura do espetáculo e da massificação.
Retomei trechos aqui do meu artigo Cibercultura como Território Recombinante. Para mais: http://www.facom.ufba.br/ciberpesquisa/andrelemos
Link Artigos, "Cibercultura como Território Recombinante"

Open business

Por Oona Castro

A cultura digital transformou radicalmente o mundo dos negócios: não se trata apenas de ter levado ao plano virtual as relações de troca ou contratos antes estabelecidos. As mudanças recentes não só conferiram novo ritmo e características a transações e negociações, como também têm possibilitado a reinvenção da maneira de fazer business, de criar, de produzir, de distribuir etc.
Se vinte anos atrás era inconcebível uma pessoa, de sua própria casa, escrever de uma vez só para milhares de leitores, isso hoje é absolutamente comum e recorrente.
As novas tecnologias de informação e comunicação abriram caminhos para mudanças nas diversas fases de produção e de acesso a cultura e informação.
Por exemplo: na área da música, o acesso às novas tecnologias tem permitido a gravação seus CDs em estúdios caseiros ou de pequeno porte, a distribuição (gratuita ou comercial) de obras pela internet, a remixagem e outras formas de colaboração; e o amplo acesso às obras, sem limitação especial ou temporal.
Na cultura, no jornalismo, no ramo do conhecimento científico, entre outros, uma das principais transformações que acompanham o desenvolvimento da cultura digital é a questão da propriedade intelectual. Hoje, é possível ter acesso às obras a qualquer distância. O custo da cópia não é mais uma questão chave. Ele é zero. Se uma reportagem, uma música, um filme ou uma pesquisa está disponível na internet, qualquer um com acesso à conexão e computador pode ter acesso ao que foi produzido. O custo de armazenamento é quase zero. E o da distribuição, nenhum. Isso cria um problema: se é possível ter acesso às obras sem pagar, como remunerar os autores, músicos, cineastas ou cientistas? E qual é o incentivo que essas pessoas terão para continuar criando?
Bom, em primeiro lugar, o que vemos é que o estímulo para a criação não é exclusivamente pecuniário. Há muita gente que cria sem intenção de lucro – ou, pelo menos, não tem, na rentabilidade, a sua principal meta. Mas partamos do princípio que todo inventor, criador etc, quer poder viver daquilo que gosta de fazer, ou faz, simplesmente.
Além dos casos em que a criação é remunerada durante o processo, seja por concursos, editais, financiamentos os mais diversos, há muitos novos modelos sendo criados, cuja sustentação está justamente na liberação de conteúdo.
Na periferia de Belém do Pará, a cena do tecnobrega mostra como a livre circulação das obras favorece os profissionais da música. A pesquisa sobre Open Business Models mostra que 88% dos músicos do tecnobrega nunca tiveram contratos com gravadoras. E 59% acham positiva a venda de cds por vendedores de ruas, pois com isso conseguem divulgar suas músicas – fazendo crescer o seu público, o número de convites para shows, o prestígio etc. Essa venda de cds não exclui a remuneração advinda das cópias prensadas pelas bandas. Em média, as bandas vendem 77 cds por show, com material gráfico e promocional – o que não existe nas unidades vendidas pelo camelôs. O preço médio é de R$ 7,50. O faturamento das bandas com a venda de Cds de tecnobrega na periferia de Belém é de aproximadamente R$ 1.045.000 mensais.
Enquanto isso, boa parte da indústria tradicional reduz o catálogo de artistas e o lançamento de cds, continua investindo muito em marketing junto às rádios, defende o combate à pirataria e tenta sobreviver com modelos que não fazem mais sentido na cultura digital.
É necessário olhar para as inovações que estão acontecendo nas ruas, especialmente nas periferias globais, onde muitas vezes a tecnologia chegou antes da aplicação dos modelos antigos. Muitos artistas de hoje não são apenas gênios da criação. São sujeitos que compreendem os processos e as dinâmicas de criação, produção, distribuição e gestão de seu trabalho. Há diversos exemplos pelo país afora. O Espaço Cubo (http://www.espacocubo.blogger.com.br/), do Mato Grosso, é um coletivo de criação e gestão cultural – em que cada artista contribui com a parte do processo que mais lhe é familiar.
No lugar da indústria cultural característica dos anos 80 e 90 está surgindo uma "indústria criativa", que inova não apenas a linguagem, a maneira de colaborar, interagir, inventar, mas também os modelos de negócios.
O conhecimento e as manifestações simbólicas e culturais são bens intangíveis. Se fulano transfere a beltrano uma idéia, uma obra artística, literária ou outros bens intangíveis, fulano não fica sem o conteúdo transferido. As obras em formato digital, portanto, não sofrem escassez. Mais do que isso, na cultura digital, a geração, ainda que artificial, de escassez não necessariamente confere mais valor à obra. Muitas vezes o que ocorre é o contrário. A liberação de conteúdo na internet contribui para a disseminação das obras, o reconhecimento do autor, músico, artista, intelectual. Presas, muitas obras caem no desconhecimento do público. Qual é o sentido de produzir conhecimento, obras artísticas e expressar idéias para que não sejam conhecidas?
No livro Cauda Longa, o autor Chris Anderson mostra que, na cultura digital, em que armazenamento e estoque têm custo quase nulo, há espaço para uma diversidade muito maior de artistas. Isso porque há uma infinidade de músicos (para usar o exemplo do livro) que podem atingir mercados de nicho, mas que, somados, geram vendas significativas. Portanto, não faz mais sentido, num mundo em que as vendas online são um caminho real e concreto, trabalhar apenas com a venda de obras de artistas muito famosos, que vendem em grande quantidade. Isso permite desconcentração do mercado e o aumento da diversidade cultural.
Neste mercado, há espaço para mais criação, produção, comercialização, gostos, predileções, acesso a diferentes culturas, informações e conhecimento. Se tudo o que somos e criamos foi e é possível porque tivemos acesso ao que antes foi produzido, por que fechar agora, quando temos a possibilidade de compartilhar, colaborar, participar e criar mais?

16 de mai. de 2007

Convite para discutir financiamento

Por Paulo Lima

A discussão sobre financiamento do que a gente vem chamando de indústrias criativas e conteúdos na chamada sociedade da informação e do conhecimento, segue na região. Os interessados no tema podiam jogar seus pitacos numa pesquisa em linha que tá em http://www.elac2007.info/?da=4962. O Elac 2007 é o plano implementação de estratégias para a sociedade da informação e do conhecimento na América Latina e Caribe. É facilitado pela CEPAL. Para quem não acompanha a CEPAL hoje é um espaço em disputa. O Presidente é um ex-ministro da economia do Menen, José Luis Machinea e hoje em dia está muito distante do tempo do Celso Furtado, mesmo do tempo do Cardoso... De toda forma é melhor ocupar o espaço do que deixar rolar. Podem participar todas aquelas pessoas envolvidas com as Indústrias de Conteúdos de nossa região, sejam do setor público, academia ou sociedade civil. Dentro destas se incluem as seguintes indústrias: editorial, cinema,televisão, criação musical, produção musical independente, discográfica, conteúdos para celulares, conteúdos para Web, etc.

15 de mai. de 2007

Acesso ao conhecimento

Por Sebastião Squirra

Os recursos de conexão e interatividade presentes no que chamam de "cultura digital" estão permitindo – como nunca na história – o acesso, o manuseio, a estocagem e o desfrute de todas as formas de manifestação do conhecimento conquistado pela sociedade. Aí incluídos, aqueles científicos e artísticos. Acumulado durante o longo período de organização da história humana e com a amigabilidade dos instrumentos tecnológicos atuais, todo o conhecimento está disponível e sendo fortemente dinamizado pelos recursos da comunicação digital moderna. De fato, antes o conhecimento estava nos livros estocados nas bibliotecas, acessíveis a partir do deslocamento pessoal até os arquivos codificados existentes em inamistosos e específicos prédios. Hoje, o acesso à obra é possível com o uso de um computador e uma conexão, a partir de qualquer lugar. A arte existia e estava organizada nos museus, sendo que, para conhecê-la, precisava visitar pessoalmente ou comprar uma obra onde tal peça estive impressa. Hoje, isto tudo está facilitado e é de acesso comum. O conhecimento se organiza em múltiplas camadas, sendo estas armazenadas em processos distintos e com contornos que foram claramente delimitados com o passar dos anos. Todavia, entendo que a "cultura" digital é, ela mesma, fortemente delineada pela "ciência" tecnológica, como apresentado anteriormente. Assim, parece mais convincente aceitar que ao se aproximarem a tecnologia e o mundo digital (de fato, este não vive sem aquela), provocou-se uma extraordinária multiplicação do acesso ao conhecimento científico e artístico, favorecendo uma profunda melhoria na vida geral. Quer dizer, acesso ao maior banco de dados possível de ser consultado, que é a própria história do ser humano, seu passado, presente, futuro e a todas os inúmeros formatos da sua produção. Sejam estes nos territórios eminentemente científicos, artísticos ou existenciais. Finalmente, concluo lembrando que nos últimos séculos, a tecnologia facilitou a vida (vem mesmo "permitindo" a vida), aproximando o homem da sua história, da espiritualidade e, sobretudo, da sua criatividade. Mas, poderá também, se não for bem dosada, afastá-lo disto tudo, de si mesmo.

Desafios do jornalismo

Por Raphael Prado

As possibilidades participativas abertas pela internet na elaboração de conteúdo não enfrentam apenas a dificuldade econômica imposta por grandes corporações que querem manter o "status quo", resistindo às evoluções que lhes tirariam lucro. Nem precisam lidar apenas com o turbilhão de novidades vindos de todos os lados, como um engavetamento de vários veículos num acidente. Não.
A comunicação colaborativa enfrenta ainda jornalistas jurássicos. Saudosistas da redação de Nelson Rodrigues, decorada com o ventilador girando devagar apenas para espalhar a fumaça dos cigarros, eles ainda andam de terno num tempo em que o Google tem salas de reunião com pufes. Ainda acham charmoso o chefe gritando pelos corredores, cobrando dos repórteres que saiam para morder cachorros.
Esses dinossauros, que podem pagar para que alguém responda seus e-mails ou que se orgulham da ignorância tecnológica, sentem calafrios, do alto de seu pedestal egocêntrico, com a idéia de ter seu espaço dividido com um "mortal qualquer". Eles se arrepiam com a capacidade de produção de conteúdo – que ele pré-julga sem credibilidade – e relega essa informação à escura do grande portal. Felizmente, novas formas são inventadas a cada momento para que esse material seja amplamente divulgado. Com um simples clique. E felizmente, os tiranossauros de mãos atrofiadas para segurar o mouse, como seus ascendentes longínquos, entram em processo de extinção.

O avanço da tecnologia digital e as manifestações tradicionais de cultura

Por Walter Lima

As manifestações populares tradicionais brasileiras encontraram na tecnologia digital das redes uma forte aliada para a sua preservação e divulgação. Com a possibilidade de armazenamento e acesso a ativos digitais como áudio, imagem e vídeos, essas manifestações espantaram os fantasmas do desaparecimento e do esquecimento.
Esses temores foram até imortalizados em letra de música: “Não deixe o samba morrer”, de 1975, interpretada por Alcione, que canta “Não deixe o samba morrer/Não deixe o samba acabar/O morro foi feito de samba/De samba pra gente sambar”.
Também é necessário ressaltar que as expressões culturais populares estão em processo de revitalização, conquistando reconhecimento e sendo revalorizadas na sociedade que está entendendo a importância de frear o processo de homogeneização cultural introduzido pela globalização.
Entretanto, fico inquieto com uma questão. As manifestações tradicionais da cultura sempre utilizaram os elementos do seu meio para se estruturarem. Da natureza retiram o material necessário para a sua concepção, expressão visual, sons e movimentos. Mas quando utilizam softwares em algumas partes desse processo, que têm embarcado uma lógica própria, essas manifestações tradicionais da cultura incorporam elementos estranhos a sua origem. Mas até que ponto isso interfere na originalidade e singularidade da manifestação?

Games e diversidade

Por Marsal Alves Branco

Os games e comunidades virtuais alternativas oferecem novas possibilidades de apreensão e expressão de identidades e relacionamentos. Possibilidades essas que não são antagônicos com outros tipos "mais tradicionais", mas que, acrescentando àqueles, os enriquecem e complexificam.
Os movimentos de apropriação, criação e publicização dessas culturas extrapola o terreno a que normalmente confinamos o digital, se espalhando pelo tecido social em todos os níveis da atividade humana. Penso, por exemplo (poderia ser qualquer outro) nos encontros de Cosplay, que partem dessa dita "cultura digital" e invadem os centros das cidades, os bares noturnos, praças e eventos diversos à volta do mundo, mostrando pessoas de todas as idades travestidas de seus personagens favoritos do mundo dos games. São Pac-Men andando nos centros urbanos, Laras Crofts pulando carnaval, vampiros passeando de ônibus em domingos de sol etc.

Tecnologia, cultura e diversidade

Por Sebastião Squirra

Em princípio contextualizante, constato que se entende pouco as características, pertinências e aplicações dos infindáveis instrumentos tecnológicos que a invenção humana coloca à disposição da sociedade. Por isso, pode-se afirmar que em determinadas partes do globo (sobretudo nos países com pouca cultura tecnológica, normalmente os pobres) os instrumentos e equipamentos oriundos das tecnologias – sobretudo as avançadas, onde se sobressaem as digitais – são manuseados aleatoriamente, evidenciando uso “cego” (sem formas de conhecimento aprofundado e contextualizado), com alta aplicação da intuição e com a experimentação ousada através de impulsos livres. É o princípio do “aperta para ver o que acontece”.

Por outro lado, é possível perceber que os aspectos distintos das manifestações culturais vêm recebendo historicamente muito mais atenção, sendo melhor entendidos, aplicados e explorados.

A história e a filosofia da tecnologia indicam que a cultura só se espraiou e alcançou volumes expressivos com a sedutora e incessante produção de tecnologias de comunicação, sejam elas, a impressão, a reprodução imagética através das técnicas fotográficas e de envio à distância de imagens e sons, a tele-transmissão de produtos audiovisuais completos pelo rádio e televisão, com as facilidades dos satélites, acrescidos do acesso e troca em tempo real e “nas pontas dos dedos”, estes possibilitados pelas redes de comunicação, sobressaindo-se a internet. Assim, constata-se que, com a pluralidade tecnológica disponível nos dias atuais (que permite a onipresença da imagem e do som em praticamente todos os cantos de alcance dos sentidos humanos), um determinado cidadão seja cotidianamente submetido a muito mais possibilidades de exposição à cultura, do que acontecia com seus pares décadas atrás. E isto é uma forma de diversidade, pelo menos no momento inicial de recepção da informação, ocasião em que as mensagens trazem em seu conteúdo a cultura social. Resta saber se, com este processo, se multiplica (outro entendimento de diversificar) a assimilação e compreensão dos pressupostos da cultura humana.
Primeiramente, é interessante lembrar que não existem formas “milagrosas” na transmissão do conhecimento, partindo do princípio único de que isto se dará a partir da existência dos recursos tecnológicos. Quer dizer, políticas sociais devem já estar presentes, como por exemplo: é necessário alfabetizar massivamente os contingentes sociais excluídos para que, de forma clara, estes consigam entender os códigos que cimentam a cultura e sua transmissão (que, neste cenário, não mais se dá oralmente, como no passado). Em seguida, é importante que se faça a “alfabetização tecnológica”, pois o mundo com os aplicativos da modernidade são complexos (as redes, os bancos de dados etc); requerem abstração conceitual (afinal, como entender a virtualidade?); dedicação para sua compreensão e exploração racional (quantos usam os manuais?) mas, sobretudo, tempo livre (na jornada de muitas horas, poucos têm disposição para o contato com coisas fora do cotidiano) e alguma disponibilidade financeira (comprar as máquinas, pagar os sistemas etc).
Mas é possível reconhecer que, com todos estes predicados elencados, quando acessíveis, os produtos tecnológicos realizam ação de melhora e incremento da percepção humana a partir do contato com a cultura e a manifestação inédita e de aplicação “complementar” ao dia-a-dia. Assim, concluo que os seres humanos, de uma forma imediata ou temporalmente sutil, tornam-se mais “completos” a partir da exposição ao conhecimento viabilizado pelas tecnologias, que o contrário. Ainda entendo que, a essência da ação da tecnologia é sua atuação como suporte das manifestações culturais, restando a estas, a excelência na abordagem dos conteúdos e suas contextualizações epistemológicas.

13 de mai. de 2007

Conhecimento livre

Por Hernani Dimantas

A nossa idéia não é matar propriedade de idéias e autoria. Pelo menos não como um objetivo. Creio que essa descontrução está acontecendo independente da nossa atuação. Estamos apenas contribuindo para a construção de um outro conceito de autoria e propriedade. Onde a colaboração passa a ter um papel mais importante do que a catedral. O conhecimento tende a ser livre. E para esse conhecimento fluir é necessário abrir outros caminhos. O metareciclagem está focado nessas experimentações, na ruptura do velho paradigma e principalmente, na possibilidade de outras produções. Colaboração é processo, trata-se de fazer acontecer independentemente do retorno financeiro a curto prazo. É esta a grande novidade. A metodologia de trabalho é simples e virtual, ou seja, qualquer pessoa com um computador conectado à rede e tem a possibilidade de participardo espaço informacional. Numa multidão hiperconectada o conhecimento livre tende a se expandir. A prática do conhecimento livre traz a reboque uma série de novos paradigmas que dialogam em tempo real com os enunciados que até agora deram sustentação filosófica à humanidade. Estamos presenciando mudanças drásticas nos debates sobre propriedade intelectual, liberdade de expressão, nas práticas de comunicação. Estamos apenas no início de uma revolução não televisionada.Neste contexto, a metareciclagem é uma conversação em rede focada no trabalho imaterial, um tipo de interconexão que acontece em tempo real, uma conversação engajada com uma expectativa existencial otimista em relação às possibilidades de mudanças e de revoluções. A metareciclagem privilegia o diálogo.